Lisboa 5 de Maio de 2012

Como acabar com as guerras da droga?

23-04-2009 10:04

A prestigiada revista The Economist, no seu número de 7 de Março, publicou uma interessante reportagem sobre o tema do “combate às drogas”, com especial incidência sobre a situação no México, que é considerada “fora de controlo”.

Segundo o artigo, os esforços e recursos que de 1999 a 2006, os EUA mobilizaram para a guerra à cocaína na Colômbia, tiveram pouco sucesso.

Por exemplo, apesar de centenas de milhares de hectares terem sido pulverizados com pesticidas, as técnicas de produção da cocaína foram sendo apuradas e a produtividade de cada hectare cultivado cresceu de forma a que a produção global de cocaína a nível mundial se manteve estável.

Por outro lado, o combate às habituais rotas de entrada de coca nos EUA, criaram novas oportunidades para o crime organizado no México.

Os pequenos gangs que se dedicavam à venda de marijuana por toda a fronteira com os EUA, viram o seu poder aumentado quando passaram a dedicar-se ao muito mais lucrativo negócio da cocaína.

Para além disso, a proximidade aos EUA, facilitou não só a organização mais eficaz de uma rede de distribuição, como permite um fácil acesso a armas de fogo (como é conhecido, a venda de armas em alguns estados dos EUA está particularmente liberalizada), e a esquemas de lavagem de dinheiro através dos bancos americanos.

Segundo o artigo, Felipe Calderón, presidente mexicano, mobilizou cerca de 45 mil soldados contra estas redes que se dedicam ao tráfico de droga e em resultado disso, nos últimos 2 anos, terão morrido cerca de 10.000 pessoas, muitas delas em autenticas batalhas em que os gangsters estão tão bem armados como o exército.

Foi também realizado um número extraordinário de detenções – cerca de 58 mil – sendo a esmagadora maioria, cerca de 95%, no entanto, composta por pequenos traficantes ou consumidores.

A nova Administração norte-americana parece querer agora apoiar o México com um programa de contornos semelhantes ao que em tempos lançou na Colômbia, mas tudo indica que o negócio da droga terá facilidade em adaptar-se aos novos tempos, como tem tido sempre.

Noutra secção do artigo, ainda sobre o negócio da cocaína, é abordado o tema da pureza da droga vendida nas ruas.

Para proteger os seus lucros, os dealers estão a diluir o seu produto com outras substâncias. Um estudo realizado na Grã-Bertanha, um dos maiores consumidores de narcóticos da Europa, há uma década atrás, a pureza da cocaína vendida nas ruas era cerca de 60% e hoje em dia será cerca de 30%.

Em boa parte das vezes, a coca é misturada com pó talco, mas nos últimos anos é cada vez mais comum a utilização de produtos farmacêuticos, como a benzocaína, que podem ser bastante mais nocivos para a saúde.

A The Economist cita por isso um alto responsável da agência Britânica contra o crime organizado, que diz “Estou ciente que por uma questão de saúde poderemos chegar um dia a dizer: Vamos parar de impedir a cocaína de entrar no país”.

Relacionado com este tema da proibição, noutra secção do artigo da The Economist, são abordados os enquadramentos legais dos vários países em relação às drogas, afirmando parecer que não há qualquer relação entre o nível de proibição e os níveis de consumo.

Existem os mais variados exemplos. Enquanto a Suécia têm uma lei particularmente restritiva e realmente não existem problemas relacionados com o consumo de drogas naquele país, a Inglaterra e os EUA têm igualmente leis restritivas e o consumo de drogas está bastante generalizado. Por outro lado, a Holanda continua a ser um case study de uma das mais baixas taxas de “problemas relacionados com drogas” na Europa.

Na Grã-Bretanha, as drogas são classificadas por A, B ou C para indicar o seu grau de perigosidade, determinando o grau de severidade com que devem ser punidas. Quando em 2004, a canábis passou de classe B para C, curiosamente o seu consumo baixou.

Finalmente, o artigo da The Economist termina com uma secção sobre “educação para a droga”, onde se afirma que a melhor forma de reduzir o mal que as drogas podem fazer é convencer as pessoas a não as consumir.

São abordados alguns programas e campanhas de sensibilização, mas conclui-se que as campanhas contra o consumo de tabaco, criaram mais élan e foram mais eficazes do que qualquer campanha contra o consumo de drogas ilegais.

Segundo a The Economist, isto é natural, já que tornar uma droga ilegal pode desencorajar algumas pessoas de a tomar mas também desencoraja conversas francas e pensamento claro sobre o assunto.

É mais fácil atacar algo quando é trazido para luz” é a teses com que termina o artigo aqui recenseado. Um artigo publicado – como todos os da revista – em nome do conselho editorial que, sem nunca dizer que defende a legalização das drogas (apesar de tudo esse continua a ser um enorme tabu), nos apresenta os factos e nos relata as experiências que nos levam a concluir que não existe qualquer hipótese de futuro na chamada “guerra à droga” e que a chave é precisamente a oposta: acabarmos de vez com as guerras da droga.

 

Recensão de Bernardino Aranda

 

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