Lisboa 5 de Maio de 2012

 

Miguel Guedes - Músico (Blind Zero)

Há uma lógica retorcida que marca todos os discursos proibicionistas: a ideia da espiral. A espiral do consumo, a espiral dos comportamentos desviantes, a espiral das situações borderline. Defendem-na, repetem-na, asseguram-na, sem nunca terem dado uma baforada ou lido um artigo científico sério e intelectualmente honesto sobre as virtudes, malefícios e consequências da marijuana. Defendem-na porque não querem a separação das águas, porque preferem continuar a fazer a ponte entre o consumidor e o negócio, entre o cultivo e o tráfico, enquanto bebem um bom whisky e devoram cigarros.

Sempre a perseguição do prazer, sobretudo o dos “outros”. Alguns fazem a sua defesa porque não compreendem que a liberdade tem preço e que os seres livres sabem bem se o querem pagar. E é para estes últimos que penso que nos devemos dirigir, com informação, com clarificação, sem dogmas e sem Messias. É só uma questão de tempo. É impossível adiar por muito mais o que todo o tempo está à vista dos nossos olhos. Os proibicionistas já o sabem, mas fingem não saber. Talvez mais alguns whiskys e mais uma geração lhes adormeçam o fingimento. É só uma questão de tempo, esse, que também é impossível adiar.

 

Bruno Maia, Médico

"Enquanto médico, prescrevo todos os dias substâncias cujo risco iatrogénico pode ser muito elevado. Substâncias que, em percentagens razoáveis podem induzir incapacidade permanente ou mesmo a morte. E muitas destas alteram o estado de consciência do indivíduo e a sua percepção da realidade (como os neurolépticos) num grau muito mais profundo do que a marijuana em altas doses. A gestão do conhecimento médico-científico faz-se assim: com pesquisa rigorosa e aplicação criteriosa. Conheço muito poucas substâncias com uma inocuidade tão elevada como a marijuana. E conheço muito poucas substâncias com resultados tão importantes como a marijuana tem no controlo sintomático da dor, depressão ou outros sintomas relacionados com doenças como a esclerose múltipla, o glaucoma ou o cancro.

É por estas razões que entendo a luta antiproibicionista como uma batalha contra o moralismo ditatorial e conservador que grassa na nossa sociedade - é o preconceito contra a substância que impede o uso dos seus benefícios terapêuticos e que instala o medo irracional da "droga".
Nem os indivíduos são escravos do pensamento maioritário e das formas de vida aceitáveis para alguns, nem a prática médica tem de se subjugar ao senso-comum irracional. Assim, espero que mais uma marcha global pela marijuana seja um marco de liberdade e uma pedrada na montra dos "bons costumes" de uma elite que vive fora dos nossos tempos."

 

João Teixeira Lopes, Sociólogo e Professor Universitário

"Acredito na liberdade das pessoas autónomas. E detesto a proibição e o paternalismo das pessoas autómatas. Assim como não sei distinguir entre substâncias culturalmente aceites mas potencialmente nocivas (como o álcool) e outras classificadas a priori como perigosas. Perigoso é quem dita as opiniões como se fossem leis e as quer impor aos demais."

 

Pedro Marques Lopes, Gestor e comentador político

"Enquanto abano o copo de whisky e fumo um cigarro vou pensando no que escrever sobre a Marcha Global da Marijuana.
Ainda me lembrei de ir buscar uns dados sobre o efeito do consumo do álcool na sociedade portuguesa ou sobre as doenças provocadas, directa ou indirectamente, pelo tabaco mas não queria insultar a inteligência de ninguém.

Procurei uns papéis velhos que explicavam o carácter quase inócuo do consumo da Marijuana face aos seus “concorrentes” álcool, tabaco e açúcar mas, de tão antigos, já eram ilegíveis.

Também me ocorreu fazer uma brincadeira sobre a história da carochinha que nos diz que um cidadão começa por fumar um charro e daqui a nada está a arrumar carros mas temi pela minha saúde mental.

Podia explicar que a proibição faz com que a enorme mais valia gerada entre a produção e a distribuição vá parar às mãos de criminosos. Que sendo o produto ilegal, fica à mercê dos maiores mixordeiros, o que resulta, na maioria das vezes, que o que se vende nas ruas esteja carregado de produtos incomensuravelmente mais perigosos que o cannabis.

Confesso: tenho pânico do ridículo e assim resolvi deixar apenas as palavras de um ex-Governador do Novo México: “Control it, regulate it, tax it”, mas mais que tudo Legalize it."


Marta Lança, Free-lancer na área da cultura

"Concordo com a legalização da Canabis, evidentemente, por todas as razões apresentadas neste manifesto. Perturba-me a grande hipocrisia de haver uma vigilância moralista em relação ao consumo e produção de canabis quando as drogas oficiais, muitíssimo mais perniciosas e causadoras de doenças (álcool e tabaco), estão aí à mão de semear e a enriquecer os bolsos do Estado.

O comportamento de quem consome canabis é salutar para a população. Precisamos de pessoas com percepção alargada, coração aberto e alegrias mais intensas. Sobretudo nesta fase de queixume normalizado, um estímulo à descontracção é sempre bem-vindo. Tem também uma dimensão de convibialidade muito interessante, pois passa por uma noção de comunidade e de reunião entre amigos que partilham este tipo de rituais de fumo. O consumidor de canábis dá mais atenção ao Outro.

Plantar em casa, recorrendo à diversidade deste tipo de plantas, pode ser um bom factor para combater as máfias da droga.

Virem moralizar sobre os nossos comportamentos, escolhas e hábitos, de acordo com esse fantasma e juíz da ilegalidade é, em geral, algo que me repugnará sempre."

 

António Eloy, professor universitário e consultor de empresas

"Ainda nos anos 70 (creio que em 78) organizei na Faculdade um abaixo assinado a favor da legalização das ervas, da Maria e das outras. E com outros amigos e amigas fiz uma lista para a Associação de estudantes onde entre outras irreverências (defesa do aborto, da objecção de consciência militar, da ecologia, e outras coisas que na altura não existiam ou estavam proibidas) colocava umas imagens dos Freak Brothers e fazíamos a defesa das ganzas.

Dizem-me ainda hoje que teríamos ganho se por medo de tal não tivéssemos desistido à boca da urna, sendo que ainda assim ficámos em 3º (de 5).

Estive num partido politico hoje extinto (UEDS) onde me empenhei na organização, no início dos anos 80, de um seminário contra o proibicionismo, em geral, e em relação à maconha e etc.s em particular.

E sou de há muito membro, intermitente da Liga Internacional Anti-proibicionista e do Partido Radical (Transnacional) onde a luta por quadros legais para o consumo das drogas em geral e do haxe em particular é central.

Defendo o meu direito a gozar como quero a minha vida e defendo uma mudança substancial da política, das políticas actuais que favorecem a droga, o narco-tráfico, as guerras e manutenção da dependência camponesa, os offshores e os capitais sem rosto.

Luta contra politicas baseadas em morais de exclusão e um falsos moralismos. E contra hipócritas e hipocrisias.

Defendo uma politica de esclarecimento, de regulamentação, de fiscalidade sobre as drogas, que essa sim as combata no quadro do esclarecimento, como em relação ao tabaco, ao alcóol, ao açúcar, ao leite.

E ontem, hoje e amanhã estarei aqui ao lado de todos aqueles que por uma razão ou outra defendem o seu direito a outra política."

 

Sérgio Vitorino, jornalista e activista LGBT

Eu fumo o que eu quiser

"Escrevo enquanto enrolo a ganza que vou fumar assim que der por terminado o dia de trabalho. Conheço, fumo, aprecio, e só não planto porque a minha gata daria rápida e ligeiramente cabo dos meus esforços agrícolas, ou a cannabis é mesmo boa e ela sabe, ou simplesmente é uma planta porreira para bolsar uma bola de pelo de vez em quando. A minha gata, como eu, é adulta, toma as suas decisões em consciência, e sabe melhor do que o Estado o que é melhor para si.

...

Despenalização da posse, consumo e cultivo de cannabis e de todos os produtos derivados desta planta, bem como a criação de regulamentação para o fornecimento, comércio e compra legal por adultos e uma regulamentação para estabelecimentos públicos onde o consumo por adultos seja permitido, tudo isto eu subscrevo. E nem sequer apenas para a cannabis, que os problemas mais sérios estão nas drogas mais duras e nas novas drogas sintéticas, seguramente não no meu charrinho." ler mais aqui

 

Mário Tomé, capitão de Abril

Proibicionistas e traficantes, a mesma luta

"A suspensão do campeão olimpico de natação Michael Phelps por ter sido visto a fumar marijuana numa festa encerra duas lições:

a primeira é que a fúria persecutória dos aliados dos traficantes não tem limites, nem sequer o do ridículo;

a segunda é que fumar marijuana ou ajuda a melhorar as perfomances atléticas ou pelo menos não as prejudica.

A legalização do consumo da marijuana, sendo um passo importante para a democratização do consumo inócuo e responsável, constituirá também uma barreira contra os bem oleados mecanismos de aliciamento dos mais novos, através do tráfico, para outro tipo de drogas cujo consumo precoce e não regulado provoca consequências gravíssimas como é sabido.

O tráfico das drogas, “duras” ou “leves”, representa hoje o maior negócio mundial sustentado na proibição. A legalização das drogas – devidamente regulada - rebentaria com essa mina infindável, geradora de todos os crimes, com a vantagem de que os consumidores “habilitados” deixariam de ser apenas os ricos e os executivos que têm dinheiro suficiente para comprar (para eles não existe de facto proibição) fazendo a sua vidinha com coca qb. e sem que a eventual habituação tenha efeitos deletérios. De facto, a toxicodependência é, principalmente, uma doença dos pobres.

Acho que a mensagem que deve ser reforçada e aprofundada é a de que o proibicionismo, a repressão e o chamado combate ao tráfico não conseguiram nem conseguirão nunca travar o consumo de drogas, pelo contrário só estimulam o crime em grande escala e o crescendo da sua violência e gravidade; e que só com o fim do proibicionismo, pode ter fim o drama da toxicodepedência que aflige as famílias e a sociedade.

Boa Marcha!"

 

Rui Tavares, Historiador e cronista do Público

"Qual é a ideia da política de repressão à cannabis? Sinceramente, qual é a ideia? Há uma ideia? Não consigo vê-la. Se alguma vez a teve, falhou. A cannabis é aceite e consumida por muita gente que não quer favorecer a criação de redes criminosas nem o tráfico de drogas duras e que, pelo contrário, gostaria de as combater. Já é mais do que tempo de arrancar ao crime o cultivo, comércio e utilização da cannabis. Trazer para a legalidade a cannabis significaria também um controle higiénico do produto e um estímulo para a investigação dos efeitos nocivos da sua utilização, bem como a divulgação deles para um público consciente, livre, e adulto — e que deve ser tratado como tal."

 

José Manuel Pureza, Professor Universitário

"Os conservadores de todos os quadrantes têm um medo agudo da desproibição do que quer que seja. Adivinham sempre a catástrofe que se seguirá à maior liberdade de juízo das pessoas. E a coberto da prevenção de catástrofes só por eles adivinhadas, impõem escolhas morais a todos. Más notícias para os conservadores: não é a catástrofe mas a decisão crítica de cada um que tem sempre prevalecido. Assim vai ser também com o consumo de marijuana. Óbvio."

 

José Eduardo Agualusa, Escritor

Luís Fernandes, prof. universitário, psicólogo e investigador na FPCEUP

 

GAT (Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA)

Vitorino Salomé, músico

Jamila Madeira, eurodeputada

Prince Wadada, músico

Miguel Portas, eurodeputado

Bob Figurante, DJ

Pacman, músico (Da Weasel)

Daniel Oliveira, jornalista

Paulo Raposo, antropólogo e professor universitário (ISCTE)

 

 

Manuel Cruz, músico

Ras da Mula, músico

 

Francisco Oneto, antropólogo e professor universitário (ISCTE)

Regina Guimarães, escritora

Maria José Araújo, investigadora (Fac. de Psicologia e Ciências da Educação da UP)

Luís Torres Fontes, editor Via Óptima

Alda Macedo, professora

Almerinda do Rosário Neto Marques, jurista

Maria José Campos, médica

Pedro Nuno Santos, deputado (PS)

Ana Drago, deputada (BE)

Pedro Rodrigues, presidente da comissão política nacional da Juventude Social Democrata (JSD)

José Falcão, dirigente da SOS Racismo

Susana Peralta - Economista, Professora Universitária

Ligia Ferro, socióloga e investigadora (ISCTE)

José Soeiro, sociólogo

Frágil, músico (Motornoise)

Maria Isabel Henriques de Vasconcelos, engenheira agrária

João Macdonald, jornalista

Marta Ren, cantora (Sloppy Joe)

Serge Abramovici (Saguenail), professor universitário e realizador

, músico (Barrako 27)

Pedro Matias, músico e promotor (DJ Flüxo, Chilled Sequence)

Ricardo Gomes, dirigente da SOS Racismo

Ana Afonso, tradutoraAndrea Peniche, editora

Ângelo Ferreira de Sousa, artista plástico

Fernando Queiroz, economista

Fernando Rodrigues, músico (Minimonster, Chilled Sequence, WC Noise)

Inês Martins, professora primária

Jahlu, músico (One Love Family)

Rodas, Porto Rio

Manuel Graça, sindicalista

Ruizinho, músico (Zen)

Juventude Socialista - subscrição colectiva

Juventude Social Democrata - subscrição colectiva

Bloco de Esquerda - subscrição colectiva

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